Entrevista: Desafio 10/40
Igreja Adventista na região central do Paraná envia missionários para a África com o propósito de ampliar o estudo da Bíblia e plantar novos templos
A Igreja Adventista do Sétimo Dia na região central do Paraná (ACP) começa o ano de 2011 estabelecendo metas para atingir interessados em estudar a Bíblia e plantar novos templos em todo o seu território. No entanto, ela também reconhece a realidade de outras localidades, inclusive em outros países, que não possuem um número significativo de instrutores que possam compartilhar o conteúdo bíblico, ou mesmo congregações para que os membros se reúnam semanalmente. Com o propósito de auxiliar o crescimento da Igreja no mundo, ela enviará em março dois missionários para Guiné-Bissau, um dos países do continente africano inserido na Janela 10/40. Para a missão foram convocados o pastor Rodrigo Oséias Assi e a professora Gabriela Assi, sua esposa. Eles permanecerão lá durante dois anos e tem o desafio de levar outras pessoas a conhecerem os ensinamentos bíblicos e estabelecer novos templos por onde passarem. Para o pastor, trabalhar naquele país não será novidade, já que em 2010 ele atuou ali como evangelista, quando ainda era estudante de Teologia. E, por isso, compreende a dimensão do que precisa ser feito.
Pastor, você esteve na África no ano passado trabalhando em um projeto missionário com outros estudantes. Que desafios vocês encontraram?
Nós fomos para Guiné-Bissau em oito estudantes, formandos do curso de Teologia do Unasp, campus Engenheiro Coelho, juntamente com o pastor Natanael Moraes, coordenador do projeto. E foi um choque, um choque cultural. É muito diferente de tudo o que nós conhecemos, de tudo o que nós temos aqui no Brasil. Mesmo o modo de vestir, mesmo eles falando a língua portuguesa, é um português mais parecido com o de Portugal. Também tem o crioulo, que eles usam muito, principalmente as pessoas mais velhas. E o local, a vegetação, as casas, os costumes, tudo é diferente, e tudo foi muito surpreendente para nós que estivemos lá. Foi a primeira viagem internacional que eu fiz também, então foi uma emoção muito grande.
E em termos de desafios missionários, o que vocês encontraram lá?
Guiné-Bissau tem mais ou menos 1,6 milhão de habitantes. Desse total de pessoas, 50% são animistas. Eles acreditam nos espíritos, eles cultuam os espíritos, e eles adoram o diabo abertamente, que eles chamam de Irã. 45% da população é muçulmana, e apenas 5% é cristã, e desses 5%, 0,01 adventistas. Faz parte da janela 10/40, então é um grande desafio para a pregação do evangelho naquela localidade. Então foi uma grande surpresa quando nós chegamos lá e tivemos o contato com as pessoas que adoravam ao diabo. Foi um trabalho voltado exclusivamente para essas pessoas, onde nós a cada noite ensinávamos que realmente havia alguém mais poderoso que o diabo. Começamos a apresentar desde a criação do mundo, desde a guerra no céu, o conflito, apresentamos a Deus, a Jesus, e eles foram descobrindo passo a passo que existe Deus. A maioria não sabia que existia Deus.
E havia resistência por parte dessas pessoas, principalmente aquelas que já acreditavam em Irã, em outros deuses, em aceitar a Jesus e a Bíblia, mesmo pela questão de ter medo de que depois esses espíritos viessem os atormentar?
Você tocou no ponto certo. Na realidade, a adoração deles é pelo medo. Então eles adoram porque eles têm uma certeza de que eles não vão ter doenças, que não vão ser acometidos da morte e que seus filhos não vão sofrer enfermidades. É uma adoração pelo medo, e até eles entenderem que quando eles se voltam pra Deus, que Deus os protege e que tem uma força muito maior do que Irã, do que o diabo, leva um pouco de tempo. Também porque eu estava pregando em português e o pastor estava me traduzindo para o crioulo. Tem aquela dificuldade também de passar aquilo que se está dizendo de forma correta. Mas é impressionante você ver quando as pessoas começam a enxergar e a verdade passa a fazer parte da vida delas. É indescritível o que você sente ao ver esse retorno das pessoas.
Você agora está retornando para África para realizar ali um projeto evangelístico. Mas por que especificamente a África, já que aqui no Brasil mesmo nós temos muitos desafios de missão global? Sabemos que a África está ali na região da Janela 10/40, que é uma região difícil de ser atingida pelo cristianismo, mas por que voltar para lá e não continuar um projeto ou dar início a um projeto aqui?
Na verdade, eu sempre quis ficar no Brasil. Nunca tinha tido a vontade de trabalhar em outros países. Só que esse projeto do meio do ano junto com o pastor Natanael realmente causou uma transformação no meu foco de missão, e ver a realidade das pessoas lá, ver o que elas sentem, o que elas passam, e saber que tem tão poucos que podem ajudá-los, treiná-los, encaminhá-los e fazer realmente diferença na vida deles fez com que esse espírito missionário brotasse mais profundamente. O Espírito Santo trabalhando de uma forma mais forte. A minha esposa sempre teve o desejo de ser missionária. E quando eu voltei para o Brasil e disse para ela que havia mudado a minha concepção sobre missão em países estrangeiros, ela ficou muito feliz. Oramos, conversamos, nos aconselhamos com alguns pastores e decidimos então que se fosse a vontade de Deus que servíssemos em outro país que nós estávamos dispostos. E todas as coisas foram encaminhando, procedendo de uma forma certa com a direção de Deus, e a Associação abraçou esse projeto, os pastores nos ajudaram, empresários se prontificaram, e agora em março nós estamos indo para lá.
Quais serão as prioridades ou os projetos que vocês vão desenvolver lá? Como vai ser a rotina de vocês?
A prioridade é realmente o evangelismo. Vamos fazer algumas campanhas evangelísticas durante este primeiro ano com o objeto de plantio de Igrejas. Como é um país que não possui energia elétrica, água encanada, nenhuma dessas comodidades que nós temos no Brasil, então se você faz uma campanha onde você tem um local que tenha luz, que tem um projetor e as músicas, muitas pessoas são atraídas. É incrível, muitas pessoas ficam aglomeradas naquele lugar para saber o que está acontecendo. E também vamos fazer treinamentos com os irmãos, apoio pastoral às Igrejas, a minha esposa também está indo como professora da Escola Adventista. Vamos realizar projetos de voluntariado pra capital, que é onde nós vamos ficar, e desenvolver todos esses mecanismos para que possamos atingir as pessoas para que elas possam conhecer a Jesus.
O que os missionários mais necessitam quando eles vão para uma região como essa? No ano passado, quando vocês estiveram lá, vocês até fizeram uma campanha pedindo doações para que vocês levassem Bíblias. É diferente agora, vocês também precisam de Bíblias para essas pessoas?
Nós precisamos de doações em dinheiro para que essas compras sejam efetuadas lá. Porque como é uma viagem longa, as empresas aéreas não permitem que se leve muito peso. Não tem como nós levarmos muitas coisas aqui do Brasil, então as doações específicas em dinheiro são mais úteis. Agora, por exemplo, nós precisamos de um projetor para que possa ser usado nas campanhas evangelísticas lá. São esses materiais, desde um folheto, de uma lição da Escola Sabatina, de algo simples que pra nós é tão fácil, lá eles não possuem. Então as doações em dinheiro causam um efeito muito grande nesses países, principalmente lá em Guiné-Bissau.
Como você enxerga então o papel do missionário no século XXI? Hoje você pode atingir várias pessoas por meio da internet, do rádio, da televisão, mas ainda existe a necessidade de se deslocar de um local para o outro, até mesmo para um outro continente para poder falar dessa mensagem para as pessoas?
Eu acho que Deus precisa de pessoas e capacita pessoas em todas as áreas, de todas as formas e com vários objetivos diferentes. E Deus precisa de homens e mulheres que se disponham a sair da suas zonas de conforto, daquilo que está ali certinho, arrumadinho, na sua comodidade para encarar novos desafios. A obra de Deus é uma obra desafiadora. Nós somos chamados para ir a todos os povos, de todas as línguas, em todas as nações para pregar. Então nós precisamos de homens e mulheres que se disponham para isso. É claro que você pode ser um missionário no seu bairro, na sua cidade, no seu estado, no seu país, e Deus precisa de homens e mulheres para isso também. Só que Deus também precisa nas suas fileiras de homens e mulheres que se desprendam de tudo o que eles tem para ir fazer o bem a pessoas que tem muito menos do que você tem.
E quais são as suas expectativas diante desse desafio?
Nós queremos trabalhar fortemente em Guiné-Bissau, dar o melhor que nós pudermos, usar todos os nossos dons, os nosso talentos. E realmente fazer algo que fique marcado na vida daquelas pessoas, daquele país, e que principalmente muitas pessoas possam vir a conhecer a Jesus, entregar sua vida a ele, e fazer com que realmente a obra seja levada e realmente Jesus possa voltar logo. Esse é o nosso maior objetivo e a nossa maior expectativa.
Para quem pensa em ser missionário um dia, quais são os passos necessários?
Agora nós temos no Unasp, campus Engenheiro Coelho, um núcleo de missões e crescimento de Igreja. As pessoas que tem interesse em ser voluntárias podem entrar no site do Numci [numci.org.br], se cadastrar e assistir vídeo aulas. Não precisa sair da sua casa. Pela internet você faz as aulas, responde as perguntas, demonstra seu interesse. E o Núcleo de Missões está com projetos para leigos com duração de um mês, 15 dias, 20 dias, dois meses, dependendo da disponibilidade que a pessoa tem. Então hoje você pode também, como eu, sair do Brasil, ir para outro país, e também fazer a vontade de Deus como missionário voluntário.
E esse treinamento do Numci é muito importante para que a pessoa até saiba as dificuldades que você pode passar em outro país, esse choque cultural que você às vezes enfrenta, e também para saber como lidar com essa situação em outro lugar.
É verdade. E aquelas pessoas que pensam: mas como vou ser missionário? Eu saí de uma cidadezinha pequena do Paraná, Quatiguá, sete mil habitantes, fui para o Unasp, fiz Teologia e as portas foram se abrindo. Deus foi direcionando tudo. Então você também pode. Se eu posso, se eu vou, você também pode.
Mas para ser missionário você não precisa sair do Brasil. Você pode ser missionário aqui mesmo, no seu campo.
Não, com certeza. E com certeza a Associação e os pastores também têm projetos especiais aqui para o campo. A Associação pode passar para as pessoas interessadas quais são esses projetos e como participar. Temos agora também a Missão Calebe, que é um projeto muito legal e muito importante.
E depois desses dois anos, o que você pretende fazer? Pretende dar continuidade a esse projeto, outra pessoa vai assumi-lo?
A princípio a ideia é que depois desses dois anos nós voltemos ao Brasil e outros possam ir e dar continuidade ao trabalho. Mas como Deus está à frente de tudo e nós não sabemos o que espera o amanhã, nós estamos entregues nas mãos de Deus. Os planos dEle são os nossos planos.
por Jefferson Paradello
Jefferson.paradello@adventistas.org.br
Associação Central Paranaense
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" Envia-me".